Lisboa ousou sonhar. E só quem sonha realiza. Porque o sonhar é atributo da confabulação e morada da quimera. Muitas águas povoaram o sonho lisboeta antes da terra firme. Foram nas águas que os pássaros semearam as palavras desta Língua no tempo.
Ocorre que os oceanos e os mares anseiam pelo encontro com as terras separadas de Pangeia. Unidas pela virtude desta Língua. Primitiva. Não a primeva, mas a primeira. Primavera. A última Flor do Lácio, que transportou suas pétalas em naus e nos quadrantes do mundo.
A primeira Língua global. Falada nos quatro cantos da Terra.
Os navegantes ingleses observavam nos setecentos esta Língua: era a que a maioria dos europeus aprendiam primeiro para manter uma conversa entre si e entre os habitantes das Índias.
Ela adentrou idiomas e dialetos. Nas Antilhas. No Oriente. Em África. Um coração português canta uma balada rouca em algum extremo do mundo e não se consegue ouvir. Mas não importa. Está.
E o que é coração é trilha de sentimento. O sentimento é o que fica. A razão espraia.
Esta Língua aprendeu dos mundos da Terra uma sabedoria antiquíssima. Filha de Pangeia. Ela a tudo abarca e nada dissipa. Tem do Latim ao Jê e de Tupi. Tem do árabe à língua dos Serafins. É da humanidade.
Uma dama antropofágica que come da própria carne e abocanha o que lhe é exterior.
O purée é o purê. O francês e o brasileiro sabem o que significa e qual palavra é da língua de quem. Elástica e rija. Trilha sonora mediúnica. De Caetano, de Gil ou de Cecília Meireles.
Esta língua é pássaro. Orgasmo camoniano. Templo no tempo. Que voou e que voa.. voa.. voa… vinda dos sonhos de Lisboa.
Mardson Soares
Brasília, 16 de maio de 2021.
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